Lenda de Nossa Senhora do Monforte – 3ª versão

Depois de erguida a capela, o povo mantinha grande devoção pela milagrosa santa, devoção essa que se espalhou rapidamente pelos povos vizinhos.

Ora acontece que a devoção e a fé, pervertida pelo egoísmo humano, levou a que alguns homens da Penha d’Águia se dirigissem à capela com o intuito de roubar Nossa Senhora do Monforte. durante a noite organizaram um grupo para roubar a Santa, da sua morada, na capelinha, e lá foram pelas serras fora. Entraram dentro da capela e embrulharam a santinha num cobertor, levando-a debaixo do braço.

Arrancaram a galope, pensando parar só na Penha; mas a providência divina tinha outros planos: fez com que desse a sede aos ladrões. Sabendo este de uma fonte de mergulho que se encontrava nas imediações, lá pararam para saciar a sede. Pousaram a Santa imagem e mergulharam para beber. Quando o último deles saciou a sua sede, resolveram retomar o caminho. Porém, ao procurarem a santa para a levarem, não a puderam encontrar onde a tinham deixado. Voltaram à capela e lá estava a Santa, como se ninguém a tivesse movido, no seu pequeno altar.

Repetiram as suas intenções: tiraram a Santa, embrulharam-na no cobertor, meteram-na debaixo do braço… mas ao passar pela fonte deu-lhes de novo a sede. Toca de beber água, um por um. Mas ao beber o último, a Santinha de novo desaparecida. Voltaram à capela e lá estava, serena, no seu altar…

Mais uma vez, tiraram a santa, mais uma vez beberam, mais uma vez perderam a santa… mas não a vontade de a levar. Os homens estiveram nestas lides durante toda a noite, sempre sem perceber a sede e o desaparecimento…

Quando rompeu a manhã – e com a Santa uma vez mais nos seus aposentos – resolveram abandonar a empresa, não só por se tornar perigoso, podendo ser detetados, mas acima de tudo por compreenderem que não estava nos planos divinos que a Santa fosse dali levada.

E Nossa Senhora do Pranto ficou assim entregue às gentes do Bizarril, que muito se orgulham por terem sido escolhidas por ela para a cuidar.

(Recolhida no Bizarril em 2004)