A vida decorria calmamente nas pequenas aldeias situadas atrás da serra da Marofa. Regadas pelo rio Côa, as gentes do Bizarril tinham orgulho nas belas hortas, junto ao rio laboravam alguns moinhos, farinando o cereal e transformando-o em alva farinha com que faziam o pão.
Numa quente tarde de verão, uma extensa nuvem cobriu o Sol. A população espantada com tal fenómeno olhou para o céu e ficou alarmada. Uma enorme vaga de gafanhotos dirigia-se para o lugar. Em pouco tempo, a praga instalou-se em todos os lados. As mães, aflitas, recolheram os filhos em casa, fechando portas, janelas e chaminés com todo o cuidado, para impedirem a entrada dos indesejáveis visitantes.
Com desespero, a população sentia-se indefesa perante tal praga que lhe devorava as culturas. Só um milagre os poderia salvar da ruína total. Então, rezaram com todo o fervor a Nossa Senhora de Monforte, pedindo-lhe que os livrasse dos insetos destruidores.
Sem dúvida que o coração da Mãe é o caminho mais direto para chegar a Jesus. O milagre aconteceu. O terrível bando, levantando voo como se alguém lhes tivesse dado uma ordem, dirigiu-se para o Côa e despenhou-se no Poço Pego, situado no sopé do monte onde se ergue a pequena ermida de Nossa Senhora de Monforte.
Eram tantos os gafanhotos, que entupiram o canal que levava água aos moinhos, obrigando-os a parar. Foi com muito trabalho que os moleiros conseguiram desobstruir novamente o canal, de modo a que a água pudesse circular livremente.