Na freguesia de Quintã de Pêro Martins há um lugar chamado São Paulo, onde viviam uns antigos fidalgos que mandaram plantar um enorme olival, com tantas oliveiras como de dias há em cinco anos. Nesse olival existia uma capela dedicada ao santo, sendo visitada por povos vizinhos, principalmente de Algodres e de Penha de Águia, participando nas procissões que frequentemente ali se realizavam.

A imagem do Santo era muito cobiçada, pelo que inúmeras vezes a tentaram roubar. Quando os ladrões a retiravam da capela, viravam-na para a frente, mas ficavam surpreendidos quando ela se voltava para trás. Receosos, iam colocá-la novamente no altar. Porém, um dia desapareceu para não mais voltar.

Os anos foram passando e os fidalgos morreram sem deixar herdeiros. Uma certa noite, um rapaz de Almendra sonhou que no olival de São Paulo estava um tesouro enterrado. Desconhecendo a localização exata do sítio, o rapaz perguntou a um homem, chamado Porfírio Refrigério, se conhecia algum lugar chamado São Paulo, para além da cidade brasileira de que já ouvira falar.

O homem, intrigado, quis saber a razão de tal pergunta. Então, o rapaz contou-lhe que havia sonhado com um local com esse nome, onde havia muitas oliveiras e casas velhas, havendo em frente delas um bardão onde se encontraria o tesouro.

O Porfírio, ao ouvir tal, foi à quinta, perguntou onde era o olival e para ali se dirigiu sozinho. Com a ajuda de um ferro, desmoronou o muro e encontrou o tesouro guardado numa panela. Em segredo, levou-o para Almendra e escondeu-o em segurança.

Mais tarde, um homem da Quintã, de nome Pistarola, sonhou que existia no olival de São Paulo um “haver” que estava guardado por uma moura encantada. Para o conseguir teria de levar consigo um compadre que ficaria encantado, livrando assim a moura do seu encantamento. Porém, a mulher do Pistarola não quis que ele levasse ninguém.

Quando anoiteceu e a freguesia adormecia mergulhada em densa escuridão, Pistarola saiu de casa e pôs-se a caminho do olival, pois combinara com a moura ali encontrar-se de madrugada. Quando chegou, ouviu um ligeiro ruído. Era a linda moura que o esperava, mostrando-lhe os muitos “haveres” que estavam guardados debaixo do chão.

Os olhos do pobre homem abriram-se de cobiça, mas a moura avisou-o de que, por causa da esposa, que impedira que ele viesse acompanhado do compadre, apenas lhe daria um cordão de ouro.

– Vai depressa para casa e, antes do galo cantar, põe o cordão no pescoço da tua mulher – avisou a jovem.

Tropeçando aqui, caindo acolá, Pistarola mal via o caminho, na ânsia de chegar a casa. Porém, quando passava pelo lugar da regada ouviu o galo cantar. Nesse instante, o cordão transformou-se numa cobra que estrangulou o infeliz.

Consta que, nas noites de luar, há quem tenha visto a dita moura a pentear-se, depois de estender as roupas no olival de São Paulo.