Muitos foram os momentos da história portuguesa onde o nome de Castelo Rodrigo foi elevado bem alto pela coragem dos seus habitantes, mas provavelmente o momento mais marcante foi a vitória conseguida a 7 de Julho de 1664 .
No século XVII, na Guerra da Restauração, Castelo Rodrigo escreveu a mais bonita página da sua história. Castelo Rodrigo, mantinha-se como fortificação ativa, pertencendo à comarca judicial de Pinhel e ao bispado de Lamego, integrando o número de vilas com assento nas cortes, onde em 1642 ocupava o 11º banco. Os seus habitantes prezavam a sua situação como centro da região. Além disso, a vila tinha voz ativa quanto à organização dos governos de armas da Beira, coincidindo com Castelo Branco no pedido feito em cortes, em 1646, para que o governo da Beira fosse dividido em dois, para maior eficácia na defesa.
O monarca D. João IV vai então ordenar a divisão da Beira por dois governadores de armas, acreditando que assim ficaria melhor defendida, pois permitia um melhor racionamento das tropas, ao encurtar as zonas de ação numa província tão dilatada.
Assim, o governo das armas das comarcas da Guarda, Pinhel, Lamego e Esgueira é confiado a D. Rodrigo de Castro, então governador da cavalaria do exército do Alentejo, ao passo que Castelo Branco, Viseu e Coimbra ficaram às ordens de D. Sancho Manuel.
O primeiro comando designava-se por Partido de Almeida e o segundo por Partido de Penamacor. Procurando testar o governador do partido de Almeida, os castelhanos tomam-lhe o pulso, atacando a região de Alfaiates. D. Rodrigo responde, e põe debaixo de ataques S. Felices de los Galegos e destruíu a «campanha» em redor de Ciudad Rodrigo.
Os dois chefes portugueses chegam a planear um ataque conjunto a Alcântara. Em 1651, os castelhanos avançam por Castelo Rodrigo e Sabugal, a que D. Rodrigo de Castro responde, atacando a região de Ciudad Rodrigo e de Salamanca.
Para termos uma ideia clara da importância de Castelo Rodrigo, convém avaliar as várias peças de armas dos dois reinos. Tal como se passava no plano de defesa Português, também a coroa espanhola, ponderava as necessidades e prioridade das suas praças de armas, junto à fronteira de Portugal, onde se destacava Ciudad Rodrigo.
A importância desta praça é bem visível no facto de ter justificado a nomeação, para o seu comando, do duque de Alba, num primeiro momento, e do duque de Ossuna, num segundo.
Só tendo em conta tais fatores, será possível fazer justiça ao significado da Batalha de Castelo Rodrigo (Salgadela), uma entre as cinco grandes batalhas da Restauração, segundo o conde da Ericeira.
No ano de 1664, o Marquês de Marialva organiza as forças do Alentejo, tendo as forças portuguesas atacado Valência de Alcântara, rendendo-se muitos lugares. Na Beira, o duque de Ossuna fortifica-se perto de Aldeia do Bispo, mas na doença temporária do governador de armas do partido de Almeida, Pedro Jacques de Magalhães, forças vindas de Trás-os-Montes impedem qualquer avanço. Por sua vez, em Janeiro, Afonso Furtado de Mendonça passa o rio Tourões com 6000 infantes e 1000 cavalos; não consegue destruir o forte, mas danifica os campos de Ciudad Rodrigo.
Depois de construído o forte de Aldeia do Bispo, Ossuna destruiu a ponte de Riba Côa, que facilitava o provimento de Almeida. A ponte é reparada, tendo o governador de armas colocado no local uma atalaia.
Após a tentativa portuguesa falhada de tomar Sobradilho, já que a artilharia não chegou a tempo por dificuldades de transposição do Águeda, Ossuna responde com 5000 infantes, 70 cavalos, 9 peças de artilharia, munições e carruagens e a 6 de Julho está sobre Castelo Rodrigo, que segundo Ericeira era «praça sem mais defesa que uma muralha antiga, porém, situada em terra defensável», sendo a vila governada pelo mestre-de-campo António Freire Ferreira Ferrão, com uma guarnição de 150 soldados. Foi valorosa a resistência dos defensores, mas necessitavam de socorros. Pediram-nos, tendo estes chegado devido à diligência de Pedro Jacques Magalhães que com 2500 infantes, 500 cavalos e 2 peças de artilharia, avança em socorro da praça sitiada, sem mantimentos, tendo os soldados que partilhar o pão que levavam.
No dizer de D. Luís de Meneses, «… Obedeceram os soldados, alegres e valorosos, em todos os séculos glorioso por esta ação, pois raramente se achará exemplo de igual constância e sofrimento…». Vindo em socorro, na manhã de 7 de Julho, encontravam-se perto das hostes castelhanas, já que aproveitaram o silêncio da noite para avançar sem serem notados. Ossuna atacava a praça, tendo o governador e seus homens resistido. Avança Pedro Jacques, antecipando-se ao reforço que o exército espanhol esperava do Comissário Geral de Cavalaria D. João de Robles, que no dia anterior havia chegado a Ciudad Rodrigo com 300 cavalos e 1000 infantes.
Pedro Jacques exorta os seus homens a combater, lembrando os ataques constantes de Ossuna à província. Manda tocar as trombetas e caixas, som que identificou ao duque de Ossuna a presença das forças, tomam a artilharia espanhola e desbaratam as suas forças. A batalha estendeu-se depois nos campos entre o Convento de Santa Maria de Aguiar e a Mata de Lobos.
Pedro Jacques de Magalhães, tendo retirado vitorioso para Almeida, enviava à corte o seu filho Henrique, de 14 anos, que não obstante a idade, já exercitara o posto de capitão de infantaria. A corte celebrava a vitória. O jornal Mercúrio Português dedicava ao acontecimento um número especial “… Mercurio Portuguez, com as novas do mez de julho anno 1664. Com a gloriosa & maravilhosa vietoria, que alcançou Pedro Jacques de Magalhães, Governador das armas do partido de Almeyda, contra o duque de Ossuna em Castello Rodrigo…”.
Do lado espanhol, D. Guilhermo Toribio conta-nos a retirada do Duque de Ossuna “… acosado el duque por todas partes, com el ejército em derrota, emprendió la retirada … perseguido de cerca y hostilizado constantemente…”.
A luta ficava então reduzida a pequenas escaramuças locais até à paz de 13 de Fevereiro de 1668, terminando também o reinado dramático de D. Afonso VI, a quem sucede o regente, infante D. Pedro, ao serviço de quem estará Pedro Jacques de Magalhães, o chefe vitorioso de uma grande batalha da restauração, a única que teve lugar na Beira, numa das praças da fronteira.
No local da Salgadela, ainda hoje existe um Padrão, designado de Padrão de Pedro Jacques de Magalhães, que foi classificado como Monumento Nacional em 1910. João da Fonseca Tavares mandou erguer em 1664 no local da batalha, em lembrança da vitória:
A paz entre Portugal e Castela foi finalmente assinada em Madrid a 5 de Janeiro de 1688 e ratificada em Lisboa a 13 de Fevereiro do mesmo ano. Instalava-se durante alguns tempos, nova época de paz, num Concelho que durante 28 anos havia vivido em constante inquietude, com muitas povoações incendiadas e duas completamente destruídas, arruinando toda a vida económica da região, o que levou ao despovoamento.
Sendo uma região de fronteira, importante do ponto de vista militar, o Concelho de Castelo Rodrigo, viveu sempre em clima de desconfiança face ao exército espanhol, referências a muitas surtidas feitas por ambos os lados. As épocas de Paz nunca eram longas.
O início do governo de D. Pedro II em 1667 e com a assinatura da paz com Espanha em 1668, a vida política interna e externa do país, manteve uma certa estabilidade que só seria destruída aquando das invasões francesas.
A nível da política externa, assinalou-se a intervenção de Portugal entre 1703 e 1713 na Guerra da Sucessão de Espanha, ao lado das várias potências europeias, contra a França e a Espanha. Ficou famosa uma incursão do exército português sob a direção do marquês das Minas que, em 26 de Junho de 1705, conseguiu entrar em Madrid.
Castelo Rodrigo e toda a região estariam de novo envolvidos pelo espectro da guerra. A praça- forte de Castelo Rodrigo, traduzindo um clima geral de preocupação, vê aumentada a guarnição com a chegada de 30 soldados.
Mais tarde, no reinado de D. José, a situação de crispação Internacional voltaria a envolver o país e em particular as regiões fronteiriças sob o espectro da guerra. Defendeu-se a neutralidade portuguesa perante a Guerra dos Sete Anos (1756-1763), o que provocou no ano de 1762 a invasão por tropas espanholas e francesas das regiões fronteiriças, como represália contra a recusa de D. José em integrar Portugal no «Pacto de Família» dos Bourbons. Segundo este acordo, o monarca português deveria combater contra a Inglaterra por ser casado com D. Mariana Vitória, filha de Filipe V, rei de Espanha e da família Bourbon de França.
A França declara guerra a Portugal a 20 de Julho de 1762. Um exército composto por forças francesas e espanholas entram por Trás-os-Montes a 23 de Julho, estando sobre o Ribacôa a 11 de Agosto. Uma vez mais, as populações sofrem as pilhagens perpetradas pelas forças invasoras.
Quando em 1789 se dá em França a revolução, assiste-se por parte das monarquias europeias a uma forte reação. A animosidade do governo português ficou patente no envio de soldados para se juntarem a tropas inglesas e espanholas na Campanha do Rossilhão contra a França, que decorreu em 1794.
Sem qualquer vantagem para Portugal, o conflito suscitou mais tarde a reação francesa que, aliando-se à Espanha, declarou guerra a Portugal a 27 de Fevereiro de 1801. Por três vezes é invadido Portugal, sendo que a terceira invasão no ano de 1810, chefiada por Messena, entrou no nosso território pelas terras de Ribacôa.
Milhares de vítimas, culturas e fábricas destruídas, foram os resultados que se fizeram sentir de forma dramática sobre os habitantes deste concelho e de todos os concelhos vizinhos. A violência das tropas francesas deixou profundas marcas nas freguesias do Concelho.
As invasões francesas constituíram a ultima grande penetração violenta de estrangeiros no território nacional, deixando contudo profundas recordações, ainda hoje vivas na memória popular.
Poucos anos depois, Castelo Rodrigo que desde 1209 desempenhou papel fundamental na região do Ribacôa, vai sofrer rude golpe. A rainha D. Maria II atribuiu o título de vila a Figueira a 25 de Junho de 1836. A 31 de Dezembro de 1836, por decreto de Passos Manuel, é extinto o histórico concelho de Castelo Rodrigo, que é substituído pelo de Figueira de Castelo Rodrigo.