No lugar das Quadrelas, na freguesia de Vilar de Amargo, há uma sepultura cavada num penedo, onde jaz uma moura encantada. Um dia, dois homens encaminhavam-se para esse local, tratando a terra cultivada de cereal. Pobres que eram, aproveitavam todos os sítios onde o centeio se pudesse desenvolver. O mais novo disse ao pai que ia tentar cavar em volta da alta rocha que ali se encontrava.

Cansado de batalhar contra o duro terreno, reparou numa estreita fenda que havia no penedo. Curioso, cavou com mais afinco, para ver se descobria o que por ali estaria escondido. Foi grande a sua surpresa quando a enxada bateu numa superfície dura. Afastou a terra e viu uma tampa. Chamou o pai e ao levantarem-na encontraram uma panela cheia de moedas de ouro.

Espantados com tal descoberta, correram para casa, contando à mulher e à filha o sucedido, escondendo a panela em local seguro, jurando guardar segredo da descoberta. Alguns dias depois o rapaz começou a sentir-se mal e caiu de cama. Chamaram o médico, mas este não foi capaz de descobrir qual o mal que afligia o moço.

Uma tarde, quando ele se encontrava sozinho em casa, apareceu-lhe uma velha, de cabelos compridos e desgrenhados, ocultando-lhe completamente o rosto que, numa voz arrastada, lhe disse que não procurasse mais riquezas junto ao penedo, pois a ousadia e cobiça podia sair-lhe cara.

Poucas noites depois, quando a família dormia a sono solto, o vulto da velha apareceu repentinamente no quarto do pai e, dirigindo-se para a cama do casal, deu-lhe duas bofetadas. O homem acordou estremunhado e perguntou à mulher qual a razão de lhe ter batido. Ela, espantada, disse não saber do que estava a falar.

Ao outro dia de manhã, quando contaram o sucedido ao filho, este pôs-se a cismar no que a velha lhe tinha dito, mas não contou nada aos pais. Tomando a refeição da manhã, pegaram nas enxadas e dirigiram-se para as Quadrelas, a trabalhar o pouco terreno que ali possuíam. Único sítio de onde tiravam sustento para a casa.

Andavam entretidos na faina de lavrar o terreno, quando do meio de umas pedras saltou uma cobra que se enroscou na garganta do arado. Refazendo-se do susto, preparavam-se para afastar o réptil com um pau, quando repararam estupefactos que este tinha desaparecido. Continuando a faina, o rapaz encontrou no meio de um rego um cordão com uma medalha de ouro, mostrando-o de imediato ao pai. Este, ao ver tão valiosa peça, disse que era para a filha.

Foi então que o rapaz ouviu a voz da velha, dizendo-lhe:

– Lembra-te do que te recomendei! Não te atrevas a dar o cordão à tua irmã. Põem-no ao pescoço da tua cadela e verás o que acontece.

O rapaz contou ao pai o que a misteriosa voz lhe tinha dito. Deixando o trabalho, regressaram a casa e seguiram o conselho da velha. Chamando a cadela, puseram-lhe o cordão ao pescoço e qual não foi o seu espanto ao verificarem que o pobre animal tinha desaparecido.

Atirando com o cordão para longe, compraram um terreno com o dinheiro que tinham achado e abandonaram o local maldito, que apesar de lhes ter permitido melhorar de vida, tantas preocupações lhes tinha dado.