A península Ibérica, num fenómeno que abrangeu todo o império romano sofreu a invasão de hordas de povos bárbaros: Alanos, Vândalos e Suevos. Os Suevos, depressa constituíram um forte estado que durou sensivelmente entre o ano de 411 a 585, tendo constituído capital em Bracara Augusta (Braga). Este povo implantou-se na região entre Douro e Minho. Converteram-se ao Cristianismo em 456, no tempo de Richiário.Posteriormente, chegaram os Visigodos, que rapidamente conquistam Alanos e Vândalos. Durante dois séculos esta região é influenciada pela luta entre estes dois reinos, pois os visigodos haviam-se convertido ao arianismo, o que deu aos suevos um espírito de cruzada contra estes últimos. Foi o rei Visigodo Leovigildo (577-586) que submeteu definitivamente os suevos em 586. O seu sucessor Recaredo I (586-601) converteu-se ao catolicismo no 3.º concílio de Toledo.

Os visigodos mais avançados no sistema jurídico e social, recebem a influência do direito romano e a inspiração dos valores católicos da vida social dos suevos, constituindo o Codex Visigotorum, que regeu e influenciou a vida das populações mesmo após a conquista dos muçulmanos.

É dentro deste contexto de reorganização do Reino visigótico, que existem referências ao Ribacôa, através da diocese de Caliábria. Sabemos que era a localidade mais importante, contudo, a data da fundação é incerta. Supõe-se que a passagem a diocese terá ocorrido durante o reinado de Suitila (612-631), pois o primeiro bispo de Caliábria aparece a assinar as actas do 4.º concílio de Toledo, em 633, onde assina “ Servus Dei, episcopos callabriensis”.

A criação de Caliábria impunha-se, segundo M. Gonçalves da Costa ”… não existindo outra sede em espaço tão dilatado, como era de Viseu a Salamanca e Egitânia e aumentando a conversão dos povos, tornava-se extremamente molesto a visitação que os bispos eram obrigados a fazer. Foi pois natural que os Visigodos católicos resolvessem colocar outro bispo em Caliábria…”.

D. Mateo Hernandez Vegas, in Ciudade Rodrigo, la catedral y la ciudad Salamanca (1935), indica que a decadência de Civitas Augusta (Ciudad Rodrigo) exigiu a criação do bispado de Caliábria “… é certo e bem comprovado que a sede da arruinada Civitas Augusta foi transladada para Caliábria, cidade situada na foz do Côa no Douro…”.

A decadência de Caliábria está diretamente ligada à da própria monarquia visigótica, que atingiu o seu ponto alto na viragem do séc. VII para o VIII, em razão das disputas pela coroa. A morte do rei Vitiza e a sua sucessão por um filho não é aceite por um grupo de nobres que entregam a coroa a Rodrigo. A isso se opõem dois homens: D. Julião, governador de Ceuta e D. Opas, arcebispo de Hispalis (Sevilha) tio e tutor dos herdeiros afastados. O governador de Ceuta estabelece aliança com Muça, sarraceno e chefe das forças do norte de Africa. As tropas de D. Julião e Muça vencem Rodrigo no ano de 711 na batalha de Guadalete.

Desde esse momento, apenas no séc. XII, altura do nascimento de Portugal, voltou a falar-se de Caliábria. Quatro séculos depois, Caliábria ainda seria uma cidade de algum significado, pois foi dom de D. Fernando à Diocese de Ciudad Rodrigo.