A Segunda Maravilha – Torre de Almofala

Para que todos possam contemplar a “Inscrição” descoberta na Torre de Almofala, designada como Ara, o Município colocou-a em exposição na escadaria dos Paços do Concelho.
Um achado arqueológico importante na história do concelho descrito por um arqueólogo, natural de Figueira de Castelo Rodrigo, que também participou nesta descoberta:

Foi com enorme contentamento que recebi a notícia de que a “Inscrição”descoberta na Torre de Almofala tinha sido exposta na escadaria dos Paços do Concelho. Após longos anos na sombra, de canto para canto, entregue ao esquecimento, finalmente foi dada a oportunidade e o respeito que tal vestígio merece.
Até às investigações levadas a cabo durante os anos 90, pouco se sabia sobre este sítio arqueológico. Embora se verifique no local a presença de uma estrutura de dimensões consideráveis, sabia-se que teria servido de torre de atalaia (torre de vigia) na idade média/moderna e tudo indicava ser de origem romana, no entanto, não se sabia ao certo qual a sua finalidade. Com a descoberta da Ara (Altar), tudo se alterou. Na referida Epigrafe pode ler-se a seguinte inscrição: IOVI… OPTVMO / MAXVMO / CIVITAS / COBELCORVM, que se pode traduzir como “Júpiter Óptimo Máximo – a cidade dos Cobelcos”. Este altar com cerca de 2000 anos e dedicado ao Deus Júpiter não só confirmou estarmos na presença de um templo romano como “afirmou” inequivocamente tratar-se de uma antiga Cidade Romana, sendo esta a capital administrativa e religiosa da época romana nesta região. Civitas Cobelcorum era o nome desta importante cidade, localizada naquele pequeno cabeço aplanado, junto à actual Barragem de Santa Maria de Aguiar.
Outro dos dados importantes nesta descoberta prende-se com o facto de a Ara fazer referência à cidade dos Cobelcos, um povo pré-romano que habitava esta região. Quem seriam estas pessoas? Qual a sua origem? O que poderemos vir a descobrir sobre eles? Note-se que até este achado não existia qualquer referência a este povo. Uma coisa podemos afirmar com toda a clareza, de uma maneira ou de outra, boa parte dos nossos antepassados estão diretamente ligados a esta cidade romana.
A última prospeção arqueológica feita em 2004 no terreno envolvente à civitas, indicou a presença de vestígios arqueológicos numa área aproximada de 60 000m2. .Trata-se de um sítio arqueológico com uma dimensão considerável, de grande importância a nível nacional e que deveria ser estudado. Os resultados das investigações realizadas em 2004 e posteriormente em 2008, ambas levadas a cabo por estudantes de Arqueologia da Universidade de Coimbra (equipa da qual fiz parte), indicam que existe também na região uma trama muito interessante de povoamento romano, provavelmente associado a esta cidade, não só na zona de Almofala mas também em Escarigo, Vermiosa e Vilar Torpim. Estes estudos podem ser consultados na Biblioteca Municipal na Casa da Cultura.
Refiro-me a este sítio arqueológico como a Segunda Maravilha por uma questão muito simples. Como acredito que o progresso da nossa região deve passar pela aposta forte em todo o nosso património, incluindo obviamente o património arqueológico, o potencial turístico, científico e gerador de riqueza que este sítio encerra é enorme. Com muita facilidade se poderá gerar neste local outro pólo dinamizador da região, enriquecendo um pouco mais a oferta que temos para quem nos procura. Todos os concelhos vizinhos procuram a “sua civitas”, muitos nunca chegam a encontrar, alguns porque nem sequer têm algo parecido. Quanto à nossa, está ali, parada, selada no tempo, à espera do seu futuro. O facto de a Ara ter sido “resgatada” do esquecimento e colocada de forma tão visível e afirmativa, leva-me a crer com toda a clareza que Figueira, desde a tomada de posse deste executivo, se encontra num ponto de viragem muito promissor.

António Ferreira – Arqueólogo natural de Figueira de Castelo Rodrigo