Num local ermo da freguesia de Algodres, muito pedregoso e afastado da povoação, para o lado Sudoeste, ergue-se uma singela capelinha, no cimo de um pequeno outeiro, em honra do Senhor dos Aflitos. Daqui se avista um bonito panorama em redor, com a aldeia ao fundo, emoldurada pela capela de Santa Bárbara, no alto de um morro que fica para Norte.
No interior do pequeno templo, com acesso por simples escadas talhadas no granito, nada mais há do que uma cruz de pedra, com a imagem de Jesus crucificado, tendo a data de 1776 gravada na base.
Entre os anos de 1930 a 1940, achando que a cruz estaria fora de moda, alguém mandou construir outra, mais moderna, em gesso policromado, afastando a primitiva para o lado do altar.

O local é aprazível e a imagem de muita devoção, não só entre os Algodrenses, mas também dos habitantes das freguesias mais próximas, a ele se deslocando muitas pessoas em romaria, ou no cumprimento de promessas. Algumas delas aproveitam a beleza e quietude do lugar para merendarem no fim das devoções.

Conta-se que, há muitos anos atrás, o sítio era bastante procurado pela população, em busca de pedra para a construção das casas, palheiros e muros. Um dia, andava um pedreiro a cortar pedra para as obras, quando a dada altura, se desprendeu um pedregulho e o pobre homem ficou preso. Cheio de dores, sozinho e não vendo ninguém por perto a quem pedir auxílio, recorreu ao Senhor dos Aflitos, pedindo-lhe que o livrasse de tão penosa e dolorosa situação, prometendo que ali mesmo construiria uma capela em sua honra, se alcançasse a graça pedida.

Como por milagre, naquele instante passou um almocreve que socorreu o sinistrado, levando-o no cavalo até à aldeia. Satisfeito o desejo, o pedreiro não descansou enquanto não cumpriu o que prometera. Das suas habilidosas mãos nasceu a pequena ermida que mal pode albergar a alta cruz que sustenta a imagem de Cristo. Dizem, que ela vai crescendo a pouco e pouco e que, quando chegar ao topo da cruz, o mundo se acabará.

A par desta lenda, que pode ter origens verdadeiras e nos dá uma lição de fé, ouvi também a história de um pastor. O pobre homem, temendo pela saúde das ovelhas, quando uma terrível doença grassava no meio dos animais, prometeu ao Senhor, uma certa quantia em dinheiro, se livrasse o rebanho desse mal.

Algum tempo depois, vendo que a prece tinha sido atendida, o pastor dirigiu-se para a capelinha e depositou a esmola prometida. Não tinham decorrido ainda muitos dias quando, numa ocasião em que por ali passava com os animais a caminho dos pastos, subiu os poucos degraus que dão acesso à ermida. Retirando a moeda que tinha depositado na caixa das esmolas, balbuciou, como se de uma oração se tratasse:

– Senhor, estava em grande aflição quando prometi deixar aqui esta moeda. Agora, como me sinto outra vez aflito, perdoai, mas tenho que a retirar, pois faz-me imensa falta.