Não deve haver ninguém que fique indiferente perante o belo espetáculo das amendoeiras floridas. No concelho de Figueira de Castelo Rodrigo são muitos os locais onde nos é dado a apreciar tão deslumbrante efeito colorido. Nos finais do mês de Fevereiro, são inúmeras as excursões que demandam terras Figueirenses, na intenção de apreciarem os lindos panoramas que a todos deixam uma imagem inesquecível.
Uma interessante lenda, conta-nos como terão aparecido no nosso país as lindas e úteis árvores.
Há muitos anos, quando os mouros reinavam em quase toda a Península Ibérica vivia em Silves, um poderoso príncipe. A fama da sua heroicidade corria mundo, pois nunca tinha sido derrotado.
Um dia, após uma batalha decisiva, o príncipe foi ver o grande número de prisioneiros, que seriam vendidos como escravos. De repente, o seu olhar foi atraído pela beleza de uma jovem, de pele muito clara e cabelo loiro, como a cor do trigo maduro. Regressando aos aposentos, mandou que a trouxessem à sua presença. Ao perguntar o nome à jovem, esta disse chamar-se Gilda.
O príncipe olhando fixamente para ela, respondeu-lhe num tom amável e meigo:
– Não gosto desse nome. Não vos importais que vos trate por a “bela princesa do Norte“?
Gilda, olhou para o mouro, encolheu os ombros e respondeu:
– Sou vossa prisioneira, senhor, e vossa escrava. Tratai-me como quiserdes.
O príncipe ficou emocionado com a tristeza da moça, que mais realçou a sua beleza e exclamou:
– Enganai-vos. A partir deste momento sois livre!
Dirigindo-se, depois para os elementos da corte, que estavam presentes na luxuosa sala do palácio, continuou:
– Esta donzela está livre. Pode andar por onde quiser, fazer o que lhe apetecer e que ninguém se atreva a tocar-lhe.
Os dias passaram, mas o príncipe não andava bem. Sentia-se triste e tudo o aborrecia. Faltava-lhe qualquer coisa. E o seu coração bem sabia o que era, ao sentir saudades de Gilda. Precisava de a tornar a ver. Quando a visitou, ficou surpreendido, pois ela preparava-se para regressar à sua terra. Receando perdê-la para sempre, logo lhe confessou o amor que sentia por ela, pedindo-lhe que casasse com ele.
O casamento não demorou muito tempo a realizar-se. Foi um dia de festa inesquecível para todos os que, vindos de vários pontos do reino, e de reinos vizinhos, a ele assistiram. Durante vários dias sucederam-se bailes e banquetes, no meio da maior animação. No último dia de festa, o príncipe deu por falta de Gilda.
Desesperado, mandou procurá-la, indo encontrar a bela princesa deitada na cama, quase morta.
Dos belos olhos azuis corriam fios de lágrimas que molhavam as pontas dos longos cabelos loiros.
Inquieto, o marido perguntou-lhe qual o motivo daquela aflição, mas ela não soube responder-lhe, mal se ouvindo a sua voz, cada vez mais fraca. Vieram os médicos, mas nenhum encontrava a causa de tal prostração. A princesa definhava de dia para dia. Foi então que apareceu um prisioneiro, criado do pai de Gilda, que queria falar com o príncipe.
Ao ver o pobre velho à sua frente, o infeliz marido perdeu as esperanças que tinham renascido.
Que poderia fazer aquele pobre e alquebrado escravo par além do que os mais ilustres médicos haviam tentado?
Numa voz insegura e temerosa, o ancião disse ao príncipe que podia salvar a menina. Antes de o mandar ao quarto da amada, o príncipe mouro disse-lhe num tom de voz desesperada:
– Se salvares a minha mulher, serás livre para sempre e ficarás muito rico, mas se ela morrer, serás torturado.
De seguida, disse-lhe para o acompanhar e dirigiram-se para o quarto da doente. A princesa estava adormecida. O escravo, aproximando-se muito devagar, não fosse acordá-la e debruçou-se sobre ela. Assim esteve algum tempo até que Gilda abriu os olhos. Ao ver o rosto do velho criado, um sorriso aflorou-lhe ao rosto e disse:
– Meu velho amigo, já não tenho cura, pois não?
O ancião sorriu, acalmou-a e retirou-se com o príncipe para um terraço próximo, dizendo-lhe:
– Senhor, vossa esposa sofre de nostalgia. Tem saudades da bela neve da sua terra natal, que nesta altura do ano cobre os campos e as casas com um alvo manto. São essas saudades que matarão a minha menina.
– Mas nesta região nunca neva! – Exclamou o príncipe desesperado. – Como haveremos de fazer?
– Senhor, mandai plantar muitas amendoeiras à volta do palácio. Quando elas florirem, as belas e pequeninas flores brancas darão a ilusão de neve, e vossa esposa curar-se-á.
O príncipe acatou a sugestão do velho escravo e deu ordens para se cumprir tudo como ele indicasse.
Poucos meses depois, quando a Primavera estava prestes a começar, as amendoeiras floriram, cobrindo o imenso espaço em redor do palácio de um manto de branco. O príncipe foi ao quarto, ajudou a amada a levantar-se e conduziu-a à janela. A princesa nem acreditava no que via. Tudo em redor estava coberto de uma alvura imaculada. Agarrando-se ao braço do marido, agradecendo-lhe aquele milagre que lhe restituía a vontade e viver. Depois, um longo beijo selou tão lindo gesto de amor!