Numa das freguesias raianas vivia uma moura encantada. Numa manhã de Verão, quando dois homens andavam à lenha para o lado das arribas do Águeda, viram uma linda mulher, de longos cabelos negros, enfeitada com fios, pulseiras e argolas de ouro. A jovem, que saía de uma gruta, dirigiu-se para os estupefactos lenhadores, dizendo-lhes:

– Encho-vos os alforges de ouro se não disserem a ninguém que me viram. Se não cumprirem este trato, o ouro transformar-se-á em lenha.

Os homens concordaram e regressaram à aldeia, deixando a carroça para trás e conduzindo o burro pela corda, carregando os alforges pejados de preciosas peças de joalharia.

Chegados ao povoado, os familiares, que os esperavam para os ajudar a descarregar a lenha, ficaram espantados quando repararam no conteúdo dos alforges.

Inquiridos sobre a providência de tal riqueza e perante a suspeita das pessoas que se aproximavam, atraídas pela excitação do grupo, os lenhadores não conseguiram conter o entusiasmo e contaram o sucedido. Nesse instante, os alforges ficaram cheios de lenha.

O local onde os homens tinham encontrado a moura passou a ser frequentado por muitas pessoas, atraídas pelo desejo de enriquecer facilmente, mas a linda e misteriosa mulher nunca mais foi vista.